Juízes queixam-se da desconfiança do poder político A desconfiança do poder político face aos juízes marcou o discurso do presidente da Associação Sindical dos Juízes Portugueses (ASJP), António Martins, no encerramento do 9.º Congresso dos Juízes Portugueses, em Ponta Delgada, nos Açores
A que “poder político” estaria a referir-se o presidente da ASJP? ? Ao “poder político” actual não era certamente, a crer nos aplausos com que o discurso da ministra da Justiça foi recebido no mesmo Congresso.
Estava, isso sim, com toda a probabilidade, a referir-se ao “poder político” anterior. Acontece porém que o queixoso presidente da ASJP inverteu a situação já que quem teria todas as razões para se “queixar” não são os juízes mas antes o “poder político” (anterior). Esse teria de facto razões de sobra para desconfiar e para se queixar dos juízes e do poder judicial em geral.
Pois não é verdade que “esse” “poder político” (leia-se o anterior primeiro ministro) foi sistematicamente vítima de ataques públicos, violações do segredo de justiça, publicações de escutas, incluindo escutas ilegais, fugas de informação cirurgicamente colocadas em jornais e televisões (sempre os mesmos, aliás)?
E não é ainda esse mesmo (o anterior) “poder político” que continua a ser objecto de manchetes e páginas de jornais dedicadas a um alegado “combate à corrupção”, ilustradas com fotografias do ex-primeiro ministro como se se tratasse de um foragido procurado pela justiça?
De quem se queixa então o ser Juíz presidente da ASJP?
Talvez devesse queixar-se dos agentes da justiça (incluindo dos próprios juízes) por se prestarem a relações promíscuas com os média e assim malbaratarem a imagem da justiça, arrastado o país para lugares elevados nos rankings internacionais das percepções dos cidadãos portugueses sobre a corrupção.
Talvez devesse queixar-se também da tolerância e do silêncio ruidoso dos agentes da justiça perante julgamentos na praça pública de pessoas “condenadas” nos jornais, que depois vêem os processos de que são alvo serem arquivados.
É preocupante que as queixas dos juízes sejam afinal tão diferentes daquelas que qualquer cidadão comum podia imaginar. Como diz o povo, “há queixas e queixinhas”.
Confesso-lhe,minha cara senhora,que vivendo há algumas dezenas de anos no mundo da Justiça,não me recordo de algum magistrado,em especial com as particulares responsabilidades do Dr. Antonio Martins, se ter comportado de forma tão politicamente “alinhada”
E, atrevemo-me mesmo a dizer que tenho a impressão que um largo número de juizes não se identifica, frequentemente, com as posições do senhor presidente da Associação Sinndical, e menos ainda com a forma como ele as exprime