«(…) [Ano de 2004]
15 de Janeiro. As multinacionais e as grandes empresas têm uma prática de oferecer viagens aos media, o que gera um ambiente informal favorável a passar mensagens que interessam. Entre Salgado e a comunicação social sempre houve uma empatia recíproca. Salgado gostava de falar através dos jornalistas, os jornalistas viam nele o poder. Se necessitava de enviar recados, o banqueiro promovia encontros em locais inesperados. Um deles decorre em Megève, nos Alpes franceses, onde fala da tentativa de concentração com o BPI: “Não se concretizou devido ao grande peso que o La Caixa (16%) tinha. Não somos ingénuos e percebemos o risco.” Observações reproduzidas na imprensa do dia seguinte.
(…)» (excerto do artigo de Cristina Ferreira “BES: Crónica do fim do império: Ascensão e queda dos Espírito Santo“, Público, Revista 2 19/10/2014
É um extenso trabalho o que a Revista 2 do Público iniciou este domingo, que não se limita a reproduzir documentos, antes os relaciona e enquadra, como aliás a mesma jornalista fez noutro excelente trabalho sobre “O dia em que Sócrates pediu a Cavaco para o salvar da troika”, publicado no Público em Abril de 2012, cerca de um ano após o resgate.
O pequeno excerto que reproduzo acima remete para o que outro jornalista, Nicolau Santos, escreveu no Expresso sobre a maneira como Ricardo Salgado se relacionava com os jornalistas.
Seria útil conhecer também esse lado da história do BES – as relações entre Ricardo Salgado e a imprensa – para uma melhor compreensão de como foi possível um grupo com 150 anos de história dirigido por um banqueiro considerado emblemático desmoronar-se de um momento para o outro perante a (aparente) surpresa e impotência do País.
Não será talvez um trabalho para ser feito por jornalistas, eles próprios protagonistas dessa parte da história. Mas o seu contributo, através de relatos como os de Cristina Ferreira e Nicolau Santos, é importantes e indispensável para quem queira lançar-se nessa tarefa.
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Quem tiver olhos que veja, quem tiver ouvidos que oiça, como diz a Bíblia…
Eu vi e ouvi o suficiente, das fontes que indica, par inferir que os meios em geral estavam, estão, comprados, pelo dinheiro (como pelo poder), pelo dinheiro do poder, como pelo poder do dinheiro.
E cumprem, vão cumprindo, esses meios, a sua função cínica primacial: a de convencer o povo que está a chover, quando os ricos lhe urinam para cima.
Que saudades dos meios (vá, dos jornais) da minha juventude, Lisboa-Capital-República-Popular, etc. Apesar da Censura, o que eles não faziam, a que nível não estavam!