A fúria contra os convites a políticos e a governantes

O país político e mediático descobriu agora que as empresas têm o hábito de convidar políticos e jornalistas para visitas de trabalho no País ou no estrangeiro relacionadas com as actividades em que estão inseridas. Essa prática, tida até há pouco como normal, envolvia diferentes modalidades, quer ao nível dos programas organizados quer dos encargos financeiros, estes em geral assumidos totalmente pela entidade convidante.

Esses convites têm, como é natural, uma vertente de informação estratégica por parte das empresas que pretendem dar a conhecer a entidades qualificadas os  serviços que prestam e os benefícios que deles resultam para a sociedade. Mas os convites são também uma forma de cortesia muito enraizada nos hábitos culturais do nosso País e de muitos outros.

Os convites são em geral dirigidos a responsáveis políticos e altos a quadros da função pública e, no caso dos jornalistas, a directores e outros responsáveis editoriais ou a jornalistas especializados nas áreas das entidades que convidam.

Por seu turno, os governos usam a prática de convites a jornalistas para  viagens de Estado, almoços de trabalho, etc., não apenas para repórteres encarregados da cobertura de eventos mas também como gesto de cortesia para com jornalistas veteranos. Esses convites incluem viagens e /ou instalação. Esta prática é usada por governos e presidentes da República, sendo mesmo, no caso das viagens ao estrangeiro, vista como uma forma de apoio à imprensa.

Há uns anos esta matéria não era assunto de controvérsia e os governantes ou presidentes não estavam à espera de que os jornalistas pelo facto de lhes serem oferecidas as viagens e/ou hotéis ou refeições, deixassem de ser isentos. Também não era hábito, como passou a ser ultimamente em alguns jornais, (DN; Publico e Expresso) as peças publicadas trazerem a indicação “o jornalista viajou a cargo de …”(nome da entidade convidante). Hoje mesmo, o DN e o Expresso (não vi noutros) trazem uma peça sobre a Nato, surgindo no  DN, no final da peça, a indicação  “o jornalista viajou a convite da Nato”.

É evidente que  os convites de empresas a políticos e a jornalistas e de políticos a jornalistas, podem condicionar quem os aceita e favorecerem de algum modo quem convida. Mas quando assim é trata-se de pessoas eticamente permeáveis e venais, sem pefil nem preparação para as funções que desempenham.

É certo que houve no passado casos como os convites de Ricardo Salgado a jornalistas e as cumplicidades daí resultantes,  e na política outros haverá, mas diabolizar os convites a políticos e a governantes para acções de trabalho ou como gesto de cortesia é assumir que os políticos são todos potencialmente corruptos e que os jornalistas se deixam “comprar”. O que não significa que não devam existir regras quer para as entidades convidantes quer para quem aceita os convites.

Levante o dedo o político de “topo” e o jornalista de “elite” que não tenha aceite um convite para uma “viagem de trabalho”….

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4 respostas a A fúria contra os convites a políticos e a governantes

  1. A. C. Leo diz:

    Sra. D. Estrela: “tenha aceitado” e não “tenha aceite”! Com o verbo “ter” usa-se a forma regular do particípio passado (aceitado). Já com o verbo “ser/estar” se usa a forma irregular (ser aceite). E.g. “ter matado, ser morto”, “ter fritado, estar frito”, etc, etc… lição que todo o jornalista (de elite ou não) deveria saber.
    Cps.
    A. C. Leo

  2. nuno diz:

    Muitas, muitas aspas. Isso a que se chama elite seria melhor que se chamasse clique, oligarquia, confraria, irmandade. Os que se escolhem em círculo fechado remetendo outros ao ostracismo.

    Distinguem-se de algum modo por funções e por trabalhos reconhecidos publicamente por se escolherem em círculo fechado e por recusarem a entrada a outros. Se fossem elite, emergiam de entre um corpo existente e livre e não de um corpo fechado e de entrada condicionada por eles – verdadeiro eucaliptal.

    As excepções (nem uma mão cheia) não contam para o universo de que fala.

  3. a expressão pretende identificar jornalistas que de algum modo se distinguem quer por funções quer por trabalhos reconhecidos publicamente. Claro que não é uma definição rigorosa e por isso está escrita no post entre aspas.

  4. nuno diz:

    Que é um jornalista de elite? São esses que estão empregados e mataram o jornalismo? Se isso é elite, vou ali e já venho.

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