Os jornalistas e a “geringonça”

Vasco Pulido Valente com o azedume e o radicalismo que caracterizam os seus textos de opinião (não confundir com a sua obra científica) resolveu um dia chamar “geringonça” ao PS, na sequência das “primárias” que deram a vitória a António Costa. Paulo Portas apropriou-se da expressão e aplicou-a depreciativamente ao acordo do PS com o PCP e o BE, na discussão do programa do governo.

O presidente do CDS-PP, Paulo Portas, usa da palavra nas Jornadas “Portugal Caminhos de Futuro”, no Porto, 11 de novembro de 2015. O presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, o líder do CDS-PP, Paulo Portas e mais de 70 dirigentes de ambos os partidos percorrem em dois dias os 18 distritos em jornadas destinadas a "manter a proximidade com os eleitores e as estruturas dos partidos". JOSÉ COELHO/LUSA

foto JOSÉ COELHO/LUSA

A direita deu-lhe eco em jornais e blogs e o termo contaminou jornalistas, que a usam em textos de opinião, muitas vezes sem aspas, para se referirem ao governo e aos partidos que o apoiam.

Se já é estranho que os jornalistas usem, mesmo em textos de opinião, um termo que nasceu com óbvia conotação negativa, já é incompreensível que o usem em textos noticiosos, como se se tratasse de uma expressão neutra. E a prova de que não é neutra é o facto de, por exemplo, neste texto, ela ser atribuída  aos “detractores do acordo de esquerda”. Isto é, o jornalista repete um termo que assume ser desqualificador e que  não acrescenta qualquer valor informativo, a não ser precisamente  desqualificar “o acordo de esquerda”.

Pode pensar-se que é irrelevante que os jornalistas chamem “geringonça” aos acordos dos partidos de esquerda, mas não o é. Significa  que o jornalismo é cada vez menos rigoroso e imparcial, confundindo-se crescentemente com opinião política, porque ao repetirem a picardia de Pulido Valente e de Portas  os jornalistas estão  a replicar o sentido negativo que estes deram à expressão.

Pacheco Pereira não considera a palavra “geringonça”  “tão pejorativa como eles pensam”. Mas propõe “outra simétrica para o governo PSD-CDS, muito menos ambígua e que não há imaginação criadora que lhe encontre qualquer sentido positivo: a avantesma.”

Ora, aí está um desafio para comentadores e jornalistas que pretendam ser isentos: se querem usar o termo “geringonça” para se referirem aos acordos de esquerda arranjem também um para os partidos de direita.

Ou talvez fosse mais adequado guardarem  as graçolas para os humoristas.

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5 respostas a Os jornalistas e a “geringonça”

  1. abilio diz:

    Trata-se de uma comandita de comedores do suor.de quem trabalha!!!

  2. Teófilo Braga diz:

    Eduardo Bramão: Só faltava dizer: “da judiaria internacional”. Acho que é justo que a imprensa esteja presentemente dominada pela direita (algo que não contesto) posto que esteve décadas a fio dominada pela esquerda revolucionária. Mas isso não o incomoda, não é?

  3. carlosalvares diz:

    Bom comentário. Mas….como se costuma dizer nestas circunstâncias, “eles manifestam-se” mas a caravana passa Carlos Patrício Álvares (Chaubet).

    No dia 15 de fevereiro de 2016 às 15:32, VAI E VEM escreveu:

    > estrelaserrano@gmail.com posted: “Vasco Pulido Valente com o azedume e o > radicalismo que caracterizam os seus textos de opinião (não confundir com a > sua obra científica) resolveu um dia chamar “geringonça” ao PS, na > sequência das “primárias” que deram a vitória a António Costa. Paulo Port” >

  4. Eduardo Bramão diz:

    O jornalismo actual caracteriza-se pele mais rasteira e imbecil subserviência ao medíocre ideário da direita reaccionária. Que, todos juntos, não passam de uma corja de pequenos e desprezíveis moços de fretes das entidades autoritárias e anti-democráticas da chamada. U.E. ao sabor dos interesses especuladores da finança europeia.

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