A lei do “recebimento indevido de vantagem” é nova mas a “estória” das prendas oferecidos a políticos é antiga. De vez em quando vem à superfície, geralmente quando atinge governantes e ex-governantes. O caso mais mediático a envolver prendas foi o Face Oculta, cujo protagonista principal, um sucateiro de Ovar, foi acusado e condenado por corromper ex-políticos e altos funcionários de empresas, a quem oferecia prendas em dinheiro ou em géneros, incluindo caixas de robalos.
Na altura o ex-presidente Jorge Sampaio, chamado a tribunal como testemunha de defesa de um dos acusados no processo por ter recebido prendas do sucateiro, o ex.presidente da REN, José Penados, questionado pelos jornalistas sobre o recebimento de presentes, referiu: “Há presentes e presentes. Recebi centenas e ninguém pode dizer que influenciaram qualquer das minhas decisões, (…) a maior parte dos presentes são mera cortesia (…) quem é influenciado e afectado por eles, é porque não tem capacidade moral”.
No caso dos secretários de Estado que aceitaram o convite da GALP para irem ao EURO, tão mal andaram os próprios ao aceitarem os convites como o PSD e o CDS que tentaram cavalgar a onda acabando com o “rabinho entre as pernas”. De facto, se os secretários de Estado queriam ir ao EURO só tinham que meter férias, ecomprar os bilhetes e pagar o hotel. Como não o fizeram e veio a saber-se, deviam ter assumido o erro (ou a ligeireza com que aceitaram o convite) e pedir desculpa em vez de “obrigarem” o governo a vir em seu socorro.
Igualmente mal andou o PSD quando julgou que podia passar por cima dos seus telhados de vidro e atirar pedradas aos secretários de estado do actual governo. Os deputados do PSD que também foram ao EURO, mas a convite da Olivedespostos e vieram dizer que se tratou de “trabalho político” ou “motivo de força maior” cometeram uma dupla falta: mentiram na justificação das suas faltas e aceitaram “recebimento indevido de vantagem”.
Quanto ao CDS quis pôr-se em bicos dos pés esquecido de que o seu líder Paulo Portas saíu directamente do Parlamento para a Mota Engil, tendo enquanto vice-primeiro-ministro do anterior governo liderado visitas oficiais ao México nas quais foi dado um grande destaque aos projectos da Mota-Engil.
Um pouco de decoro não ficaria mal aos nossos políticos quer quando estão no governo quer quando mudam para a oposição. É que os portugueses que não embarcam na crítica sistemática aos políticos gostariam de acreditar que não há democracia sem partidos e que estes são constituídos por pessoas que às vezes erram mas em geral defendem o interesse público e estão na política para servirem o país e os portugueses.
Os secretários de Estado que viajaram a convite da GALP para irem ao EURO erraram. Deviam reconhecê-lo. O PSD e o CDS que cavalgaram o erro para extraírem dividendos políticos esquecidos dos esqueletos que tinham no armário lá de casa, erraram igualmente.
Já o Bloco de Esquerda e o PCP estiveram à altura da situação, reprovando a atitude dos secretários de Estado sem explorarem politicamente o caso. São, neste caso, os únicos sem telhados de vidro.
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