Eleições e comentadores: manda quem pode

Marcelo não suspende comentário

O estranho nesta peça do semanário Sol não é que Marcelo Rebelo de Sousa não queira suspender o seu espaço dominical de comentário político na TVI durante a próxima campanha eleitoral. Como também não é estranho que prefira fazer o mais tarde possível a divulgação da sua eventual candidatura às presidenciais.

O estranho na peça do Sol é ser Marcelo a anunciar que se manterá em antena durante a campanha para as legislatvas, em vez de remetar a resposta para a direcção da TVI a quem  é suposto  pertencer a decisão de manter ou não o seu comentário.

Também é estranho que o jornal não tenha questionado a TVI sobre o assunto. Se o fez, não dá conta, na peça, da resposta que terá obtido. Ou então o próprio jornal considera natural que seja Marcelo a definir, no que se refere ao período eleitoral, a política editorial da TVI .

Acreesce que  o professor não responde apenas por ele. Diz ao Sol: “eu e o Dr. Marques Mendes vamos continuar firmes”. Será que também na SIC, é o comentador Marques Mendes que decide tão sensível matéria em período eleitoral?

Marcelo alega que nunca interrompeu o programa em campanhas anteriores. Porém, como bem lembra  o jornal, Marcelo “é um dos protocandidatos da direita às próximas presidenciais” e isso faz toda a diferença. E no que respeita a Marques Mendes é assumidamente um comentador comprometido com um dos lados da disputa eleitoral.

Sejamos, porém, claros: a TVI, como a SIC, enquanto televisões privadas podem até apoiar um determinado partido nas legislativas e um candidato presidencial, desde que, naturalmente, no que se refere aos espaços noticiosos, os seus jornalistas cumpram as regras da profissão, entre as quais, o estatuto editorial, o rigor e a independência, e as leis que regem a actividade televisiva, entre as quais, a lei da televisão e o contrato de concessão da licença.

Porém, como acontece noutros países em que existem órgãos de comunicação social que apoiam candidaturas de partidos ou de pessoas, isso deve ser feito com transparência e lealdade perante os cidadãos.

Nada disto se confunde com a discussão em curso no Parlamento sobre as alterações à legislação para a cobertura de campanhas eleitorais. Será interessante acompanhar como vão a TVI e a SIC justificar com “critérios editoriais”, manterem os únicos dois comentadores políticos em canais de sinal aberto durante a campanha, o que, por si só, representa um benefício concedido a uma das partes. De facto, Marcelo e Mendes nunca esconderam nos seus comentários as suas pertenças e preferências partidárias e o lado em que se situam, por sinal ambos no mesmo lado, mesmo quando criticam os seus pares de partido.

(Sobre o mesmo assunto escrevi aqui e aqui)

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2 respostas a Eleições e comentadores: manda quem pode

  1. cristof9 diz:

    A visão de que os eleitores não sabem decidir ou podem ser mais enganados do que são , não me parece curial. A responsabilidade de cada um em decidir por si e assumir a responsabilidade disso deve ser a regra. As campanhas como têm sido “reguladas” no passado tomam uma forma de tal ordem que só vejo os espectadores a fugirem para outros canais. Quem gosta de contar espingardas pode ainda achar isso importante; apesar dos 60% de abestencionistas (a maioria) não lhe causar qualquer problema de legitimidade ou de valor da representatividade das percentagens ficticias de maioria!! de votos.

  2. domingos Estanislau diz:

    É pouco o que me apraz dizer neste momento para um ultraje desta dimensão. Apetecia dizer muito coisa sobre esta desfaçatez, só os pelintrasw são capazes de terem o arrojo de se prestarem a tais serviços. Há gente que nunca me enganou, nem na sua seriedade, na sua sua dignidade. É uma vergonha

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