As sondagens e as “corridas de cavalos”

As sondagens eleitorais são um poderoso instrumento de pressão sobre os partidos e sobre os cidadãos. Os jornalistas usam-nas como se se tratasse de “corridas de cavalos” (horse race) expressão consagrada pelos estudos americanos sobre campanhas eleitorais.  Nesta campanha, as notícias enfatizam o empate entre os dois “cavalos” que vão à frente. Mas há um outro lado da “corrida” que não atrai a atenção dos jornalistas embora as sondagens o deixem perceber. Trata-se dos “cavalos” que ocupam os dois últimos lugares na “corrida”.

Trocando por míúdos a metáfora da “corrida de cavalos”, temos que os dados da sondagem do Expresso  põem em evidência os efeitos perversos da lei da cobertura das campanhas eleitorais aprovada pelo PSD e CDS que excluíu dos debates da pré-campanha eleitoral os partidos sem representação parlamentar, ao mostrar que mesmo afastados desses debates há dois novos partidos que podem eleger deputados nas eleições de 5 de Outubro: o PDR e o LIVRE.

sondagem expresso quadro

As sondagens, bem o sabemos, erraram muito nos últimos tempos. Não sabemos se os debates televisivos mobilizam os cidadãos nem se influenciam o sentido da votação. Sabemos, porém, que dão visibilidade aos líderes e aos respectivos partidos e, nessa medida, alargam as possibilidades de escolha dos cidadãos ao mesmo tempo que permitem um melhor conhecimento das propostas em confronto.

Os partidos do governo que aprovaram a lei da cobertura eleitoral e os responsáveis dos órgãos de comunicação social que a apoiaram, violaram flagrantemente o princípio constitucional que obriga à  “igualdade de oportunidades e de tratamento das diversas candidaturas” (art.º 113, al. b) da CRP).

As televisões vão, certamente, nas duas semanas que aí vêm, filmar as habituais arruadas e comícios incluindo os dos partidos descartados dos debates. Será como que uma pequena “esmola” de última hora, em nome de um “pluralismo” muito pouco plural.

Mas nunca saberemos qual seria a configuração do novo Parlamento depois de 4 de Outubro se a Constituição fosse cumprida, isto é, se as eleições fossem verdadeiramente democráticas e todas as candidaturas tivessem tido “igualdade de oportunidades” para se darem a conhecer e às suas propostas.

 Não será isto “asfixia democrática”?

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6 respostas a As sondagens e as “corridas de cavalos”

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  3. Abraham Chévre au Lait diz:

    As sondagens nem água de rosas são no ânus dos eleitores…

  4. Leston Bandeira diz:

    A verdade é que os cidadãos deste país andam distraídos ( também é verdade que nunca foram muito atentos e o QI nacional é uma desgraça) e essa distração pode prenunciar um Estado filo-fascista para breve. O nível de manipulação de informação é de tal ordem que já deveríamos estar na rua a exigir a demissão dos chamados directores dos OCS, que, afinal, não passam de directores comerciais e de comissários políticos.

  5. cristof9 diz:

    Os pequenos partidos, são prejudicados sem dúvida; no entanto noto que nem linguagem nem programa demonstram para um debate de uma hora. O debate Apolonia com o Portas em que os dois foram muito honestos, mostrou como a linguagem dos Verdes, apesar de séria, começa a repetir chavões após dez minutos de programa.;atacar só o que os outros fazem não pode valer com programa e discurso proṕrio, nem seriedade de propostas!

  6. nuno diz:

    Vale a pena ler o que Vitor Dias diz sobre o estudo da distribuição dos mandatos.

    http://otempodascerejas2.blogspot.pt/2015/09/a-minha-batalha-perdida.html

    O Expresso ouviu um total de 98 pessoas nos distritos de Portalegre + Évora, + Beja + Faro.

    Ou seja, o Expresso ouviu menos de 25 pessoas em cada um dos círculos eleitorais. E mesmo assim faz projecções sobre a eleição de 3+3+3+9 deputados. Uma aldrabice e desonestidade completa.

    Como explicar a distribuição da quase dezena de deputados algarvios, se tiver tido apenas os 25 inquiridos sugeridos?

    E, se foram mais de 25 – e mesmo que fossem 28 isso não seria reprensetativo – , com quantos inquiridos terão ficado os distritos alentejanos?

    Para quando a proibição da publicação de sondagens?

    A associação directores de jornais/Coligação de Direita é asfixia democrática, mas a coligação directores de jornais/sondagens publicadas já cai no domínio da fraude eleitoral e do roubo de votos.

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