RTP: António Borges foi o homem do balão

A estratégia é conhecida por “balão de ensaio” e tem vários níveis de sofisticação. É delineada nas altas esferas e é geralmente aplicada através de “fugas” de informação dirigidas a certos jornais “próximos” por intermédio de  jornalistas “de confiança”.

Esta estratégia, tudo o indica,  foi agora utilizada pelo Governo, a propósito da RTP, com algum grau de sofisticação. Mas há sempre alguma coisa que escapa ao controle e ajuda a perceber  mais do que aquilo que se diz.

Neste caso, importa analisar todos os pormenores do que veio a público e do que é possível perceber do que não veio,  porque eles fornecem sinais sobre o que verdadeiramente se prepara para a RTP. Vejamos:

– A notícia sobre a “hipótese em cima da mesa”, de concessão do serviço público a um privado e encerramento da RTP2, foi dada em primeira mão ao jornal Sol que a anunciou na sua edição electrónica ao fim do dia de ontem, antes de ser divulgada pela TVI no Jornal das 8 e hoje pela edição papel do jornal. 

– O Sol é  detido em 96,96% pela Newshold, grupo angolano cuja estrutura accionista é constituída por Pineview Overseas, S.A. (Sociedade Anónima sedeada na República do Panamá) e em 5% pela TWK – SGPS, Lda. (Sociedade por Quotas).

– A Newshold, dona do SOL, segundo notícias vindas a público  está a preparar a sua candidatura à privatização de uma frequência da RTP, tendo para isso criado uma nova empresa e começado a contratar colaboradores para a elaboração do projecto.  

– A notícia do SOL é assinada exclusivamente pelo vogal do conselho de administração do jornal, José António Lima, e não por  jornalistas que geralmente cobrem os temas televisão e media, o que sugere ter o assunto sido tratado apenas ao mais alto nível no seio do jornal por alguém em posição de deter e poder controlar a divulgação da informação conveniente.

– Do lado do Governo, o escolhido para a execução da estratégia não foi, desta vez, um assessor ou um dos comentadores televisivos a quem o Governo costuma dar “cachas”- Marcelo ou Marques Mendes. O governo subiu a parada e entregou o serviço ao seu conselheiro e ministro-sombra com o pelouro das privatizações, António Borges, que nada tem a perder e tudo tem a ganhar em fazer o papel do “balão” que não se importa de ser desmentido se o “ensaio” não der o resultado esperado.

– E é aqui que entra a TVI. Seria coincidência a mais que a TVI se lembrasse de entrevistar António Borges no dia em que a notícia do dia  era o buraco orçamental. Mas era preciso que António Borges – o escolhido pelo Governo para dar a cara – fosse a uma televisão fazer o spin, prevenindo a eventualidade de a notícia do Sol não corresponder ao que o Governo queria que fosse dito. A RTP estava fora de questão, a SIC ainda mais pelos motivos conhecidos: Balsemão é frontalmente contra a estratégia do Governo para a RTP. Então, quem melhor do que Judite de Sousa para conseguir entrevistar  em cima da hora uma figura de proa ligada ao Governo como António Borges?

E assim o “balão de ensaio” fez o seu caminho…

Veremos se o serviço público de televisão acaba concessionado a uma entidade de seu nome Pineview Overseas, S.A., com sede na cidade do Panamá, República do Panamá… de cujos “testas de ferro” não foi até hoje possível conhecer os nomes.

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24 respostas a RTP: António Borges foi o homem do balão

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  5. Francisco Vale Afonso diz:

    Apetecia-me escrever umas coisas sobre as jogadas de poder e promiscuidade da política com o jornalismo (????), com o poder económico e outros poderes, muitas vezes ocultos. Mas sinto desprezo pelos que hoje ocupam os diversos poderes e por alguns dos seus peões, colocados em vários tabuleiros. Também é verdade que muitas das virgens ofendidas de hoje não fizeram melhor ontem… Enfim é este o nosso pequeno e mesquinho mundo…

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  8. Judite de Sousa: Sobre o teu comentário:
    Lido no DN de 25 deste sábado (25/08): ” As declarações de Borges (…) foram previamente “programadas” na cúpula do Governo (passos e Relvas)” (pág. 2)
    Lido no último Expresso: “A coisa funciona assim: o ministro Miguel Rekvas dá a notícia a um jornal e agenda uma ida de Borges a um telejornal poucas horas depois. Borges vai lá, é apanhado de “surpresa pelo tema, mas confirma-o e discorre longamente sobre o assunto. É uma espécie de paparazzi combinado. Foi assim que o modelo que ninguém conhecia passou a ser verdade em trinta minutos” (…)” (pág. 15).

    Tomando as tuas palavras “Só quem não conhece” o campo político ignora que os políticos gerem os convites para entrevistas como lhes convém. O facto de Borges ter sido convidado há três meses confirma que escolheu o momento que lhe interessava para aceitar o convite antigo. Nada de diferente do que outros fazem. E nada que uma jornalista experiente não saiba. Evidentemente que a entrevista interessou ao canal e ao entrevistado. Tudo habitual na relação entre jornalismo e política. Não vale a pena tapar o sol com a peneira. Nem vejo qual a ofensa para uma resposta tão “ofendida”…

  9. antonio diz:

    Tem toda a razão a SRA vê aquilo que todos veem,alguns é que fazem de conta

  10. Pedro Henrique Brito diz:

    Olá tudo bem? Achei o seu blog muito interessante, tenho uma proposta de patrocinio para o seu blog, se tiver interesse em conhecer é só me mandar um e-mail: phbrito@windowslive.com

    Abraços! ; )

  11. João Faria diz:

    Gambrinos serão sempre gambrinos!

  12. Da fama e do proveito ninguém os livra. Corja estruturante e estruturada. No stress,PQoP! (Poetas Que orientam Portugal)

  13. João Valente diz:

    Judite, não faça de “virgem ofendida”, que até lhe fica mal…

  14. João Valente diz:

    Judite… não faça de “virgem ofendida”, que até lhe fica mal!

  15. carmobaptista@gmail.com diz:

    No comentário anterior, devia ter colocado o mail no campo do nome, as minhas desculpas.
    Vitor Baptista

  16. ___ diz:

    Só quem nunca assistiu a este circo acredita que não há coincidências!
    Maquiavel existiu, nasceu no século XV e ainda povoa o século XXI. Os arquitectos maquiavélicos são figuras transversais a todos os actores do palco do poder, iluminado mediaticamente e manipulado por interesses financeiros obscuros, incompetentes e exigentes.

    Obscuros, porque alimentam incessantemente a mediocridade, promovendo a informação em detrimento do conhecimento, criando uma discussão sem fim, de falsos opostos, esmagada pelo passado, que não chega a discutir o presente e não propõe horizontes, adiando continuamente uma ideia clara para Portugal.

    Incompetentes, porque os factos falam por si. Estamos perante uma elite falhada em toda a linha que se tornou poderosa à custa do empobrecimento das organizações que lideravam. Para não perdermos o foco, podemos recordar o caso da banca portuguesa, BPN e BCP. Enquanto os seus dirigentes criavam, de um dia para o outro, fortunas pessoas fabulosas, as instituições definhavam de dia para dia. Alguns deles posicionaram-se acima das próprias instituições que tutelavam. Tudo isto é possível, alimentando clientelas políticas, adquirindo e manipulando os meios que criam e que formam a opinião. Os interesses e as estratégias que se movem em torno da privatização da RTP já não escapam ao olho nú do mais indiferente dos cidadãos. E, a teoria da cabala, para silenciar o grito de revolta, já não cola.

    Exigentes, porque pedem para os outros aquilo a que não se obrigam a si próprios. António Borges, é um exemplo dessa exigência quando, do alto da sua autoridade, pede a redução do salário dos portuguese. Sem comentários!

    Atenção aos “anúncios”, ao turbilhão de desmentidos, contra-informação, de entrevistas cirúrgicas e das cortinas de fumo artificiais que criam factos para esconder a realidade. Nós, os cidadãos anónimos, já estamos fartos e não “papamos” mais “grupos”.

    É chegado o momento de vos dizer, que para ser intelectualmente honesto, não basta dizê-lo, é preciso sê-lo!

  17. Pedro diz:

    “Estas pessoas”? estas pessoas são iguais às outras; não são extraterrestres que vêm de Marte e só cá chegam em três semanas, nem são o presidente dos Estados Unidos (até este, se tiver alguma coisa para dizer num dia, arranja maneira de ser entrevistado no próprio dia). É uma questão de senso comum, não é preciso trabalhar na televisão. Ninguém acredita que uma entrevista com alguém como o António Borges, um mero consultor do governo, ainda por cima com vontade de falar, exija um protocolo especialiíssimo, por ser uma espécie especial de pessoa. Juntando-se a vontade de falar e a vontade de entrevistar, a coisa faz-se, sem grandes burocracias. Quanto ao resto, spin ou não spin, não me pronuncio.

  18. Pingback: Os novos desenvolvimentos RTP, segundo Estrela Serrano | O dia inicial inteiro e limpo

  19. Irapuãs@TVI.pt diz:

    As falsidades são sempre falsidades. A desonestidade é sempre desonestidade.

  20. odiainicial diz:

    Reblogged this on O dia inicial inteiro e limpo.

  21. odiainicial diz:

    Reblogged this on O dia inicial inteiro e limpo.

  22. Ricardo diz:

    Como diz o povo…”eu não acredito em bruxas, pero que hay, hay”

  23. Cara Judite, os factos são os factos e a interpretação dos mesmos é livre. Nem sempre o que parece é e também nem sempre o que é, parece.

  24. jrsousa@tvi.pt diz:

    Cara Estrela Serrano : Eu não faço parte de estratégias de ” spin “. A TVI não faz parte de estratégias de ” spin “. O que escreves é falso. O António Borges estava convidado há cerca de três semanas para uma entrevista na TVI. Só quem nunca trabalhou em televisão é que pode pensar que estas pessoas são convidadas no próprio dia. Agradeço que não uses o meu nome para falares de coisas que não sabes. Judite Sousa

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